quinta-feira, 12 de março de 2015

Banda Fábula: Uma narrativa... musical

Numa mistura de música, poesia, artes visuais e um figurino diferenciado, a banda Fábula tem despertado a atenção de um público ainda restrito, mas ansioso por inovações áudio-visuais (pode-se dizer). A banda mescla músicas com sonoridade da música celta e MPB, passando pelo instrumental andino, com letras que falam dos mistérios esotéricos e lendas folclóricas, num ritmo que lembra danças e celebrações pagãs em volta de fogueiras. Uma banda que nada contra a maré dos estereótipos de ritmos rock regionais aqui da nossa cidade. 


Compositores da Fábula - Esaú e Samule (Foto: Maria Aparecida)

ZA Fábula foge um pouco da linha que as bandas aqui geralmente seguem. Por que a escolha dessa vertente? 

Samuel: Acho que primeiro a influência. Sempre gostamos de música boa, sempre tivemos uma influência muito grande de bandas progressivas, MPB antiga, de canções, sempre tivemos influência dessas músicas; então, juntamos também com o lado poético das composições. Nós gostamos de poesia, de músicas mais elaboradas, não tivemos a coisa de escolher o ritmo, mas sim fazer o que a nós consumíamos, sentíamos. Na verdade, é uma produção que fazemos naturalmente. Não é ‘escolhemos fazer tal estilo de música’, eu acho que não existe isso, acho que tudo que você faz, que o artista faz, é baseado naquilo em que ele se influenciou, no que ouviu, no que assimilou e também deve ter algo inovador, adaptado à sua realidade, à visão que ele tem da realidade. Adaptamos essas influencias e naturalmente surgiu o som que produzimos no momento.

Z: E o trabalho visual da banda? De que maneira o visual acrescenta alguma coisa para a apresentação? 

Samuel: Acho meio cansativo esse negócio do artista ficar separado do público. Você é um músico, você é um artista, você sobe no palco e está apresentando algo para o público. Fica naquela via: mão e contramão. Acho que nós, enquanto artistas, temos que propiciar ao espectador uma diferenciação, uma coisa interessante, não somente esse lance de você subir no palco, tocar, ir embora e acabou. Tipo ‘eu sou o administrador/servidor e você é o receptor/usuário. Acho que quisemos proporcionar, além da música, um show completo com vestimenta, com sonoridades atípicas, uma intervenção que nós fazemos com o público, um diferencial. 

Z: Como é feito esse som atípico? 

Samuel: Como eu disse, somos influenciados por ritmos latino-americanos, música andina, bandas como Secos e Molhados. Essa banda é um grande exemplo pra gente, porque eles tocam polca, toada, tango, misturado com rock'n'roll, misturado com música folclórica e, ao mesmo tempo, também se vestiam de forma diferenciada, tanto que fez sucesso por conta de todos esses elementos. Secos e Molhados seria uma inspiração muito forte para nós. Não que quiséssemos copiar nada deles, mas essa é a proposta: levar ao público essa diversificação sonora e visual. Essa sonoridade atípica é exatamente dessa influencia. Curtimos ainda música celta, um ritmo musical da Irlanda, as músicas que têm mais flauta, mais mística, folclórica, gaita, música instrumental, Folk, música chinesa. Nós começamos a escutar música oriental também. É o exemplo de um som diversificado, com experimentalismo, assim como os Beatles fizeram, numa mistura de vários elementos de música mundial. 

Esaú: E é que geralmente fazemos muito em cima do palco. Geralmente, ensaiamos uma coisa e na hora de tocar sai algumas coisas diferentes. É a mesma música, mas com uma cara nova.


(Foto: Maria Aparecida)


Z: Para um registro dessas músicas, devido a essa enorme influência e a essas novas caras , não afeta a questão da identidade sonora da banda? 

Samuel: Em relação às gravações, estamos nos ouvindo. Conhecemos nossa potencialidade, a potencialidade da nossa música. Às vezes, por conta de tanto experimentalismo, pensamos que a música é de um jeito e na hora da gravação é de outro. Mas sabemos do nosso potencial e pelo resultado que estamos tendo na gravação de algumas músicas, acho que não vai destoar tanto das nossas influências, porque fazemos um som natural. Não é para ser igual às nossas influências, algo enrijecido, mas algo natural. Agora, dá para identificar elementos de musica mundial e sem aquele negócio de sermos presunçosos e dizer que estamos fazendo música globalizada e cheia de elementos étnicos. Não vamos falar isso porque ainda não temos um CD para mostrarmos isso, entende? Então, vai parecer meio presunçoso achar que estamos fazendo um som que seja magnífico. Quem vai definir isso é publico quando ouvir e, independentemente disso, faremos uma música autoral, do nosso coração, uma música que sentimos, música com alma, quer o público goste ou não. 

Z: A Fábula já tem quantos anos? 

Samuel: O nome Fábula surgiu em 2001, era um projeto muito antigo que eu tinha com um amigo, o Davi, e já tinha pensado nesse nome, que seriam seres encantados, que conversariam entre si, e sempre teria uma moral a dar para a humanidade, uma coisa bem mística, uma coisa mais da floresta. Depois, reunimo-nos em 2004, uma primeira reunião e um ensaio. Nessa época, reunimos um grupo e não tínhamos nenhuma música pronta ainda. Nesse encontro fizemos treze músicas, conseguimos um CD com treze músicas, muito amadoras, e só ali. Depois todos foram para seu canto. Aí, recentemente, no final de 2013 eu me reuni com o Gabriel que já era dessa formação antiga e o chamei para refazermos esse projeto, com o mesmo conceito de músicas cósmicas, panteístas, a mesma proposta antiga. Reunimo-nos  e voltamos com o projeto. Aí conheci o Esaú, que também é compositor, e ele deu um gás para continuarmos. Hoje, estamos fortalecidos por conta da força que temos. Hojea Fábula está fortalecida, está crescendo, vamos gravar um CD, não sei no que é que esse CD vai dar. 

Z: O que vocês tocam são as músicas que já existiam ou o processo de composição exigiu mais canções? 

Samuel: Das treze músicas que tínhamos daquele período só pegamos uma delas que é “Tá pra chegar”. Mas o conceito é o mesmo. As nossas músicas não falam de um tema em uma música e de outro tema em outra música, ele é todo conceitual, todo interligado a essas músicas. É tipo como uma temática diversa, mas com uma consistência que tivesse um tema base. 

Z: Num CD com dez músicas, cada música individual vai se interligando para montar uma temática? 

Samuel: Esse disco não é conceitual, com uma música que explica a outra. Não é assim. Não é como se fosse uma ópera rock como “The Dark Side Of The Moon” (Pink Floyd). As músicas não são complementares, mas todas elas têm esses princípios básicos: os temas do holístico, do panteísmo, da cosmologia e da sonoridade, com uma ligação entre elas. Não é um conceitual em que uma música explica a outra. 

Z: Quantos integrantes tem a Fábula? 

Samuel: No momento, somos seis.
  
Z: O que esses seis tocam, exatamente? 

Samuel: O Victor Carvalho toca cello. Temos o Ramon Rodrigues, que toca baixo, substituindo às vezes o som do cello; o Gabriel toca violão, canta e é compositor; eu toco flauta e componho o Esaú toca violão e compõe também. E temos os dois percursionistas, Adriano e Panda. 

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